segunda-feira, 26 de setembro de 2011

E no meio de tudo isso a população questiona: Onde está a segurança pública?

E no meio de tudo isso a população questiona:
Onde está a segurança pública?

Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante.”
Albert Schweitzer


Hoje não falo apenas como mulher, instrutora de um Curso de Formação em Segurança Pública e professora recém-formada em uma universidade estadual do sul da Bahia. Falo como ser humano que, independente de sexo, cor, gênero e religião, está sem voz e sem meios de ação que possam facilitar a compreensão de mais um ato de violência no ambiente escolar.

Lembro-me como se fosse hoje de minha reação de incredulidade quando vi, na fila de espera para ser atendida por um caixa do banco, a notícia do massacre da escola de Realengo, acontecido no Estado do Rio de Janeiro em meados de abril de 2011. Na época, acreditei que nenhum fato relacionado à violência que se manifesta dentro dos muros do ambiente escolar poderia me chocar novamente neste ano, mas um caso novo, até agora sem uma explicação que contente a lógica de nossa sociedade, invadiu a mídia calando duas instituições sociais fundamentais: Família e Escola.

Mesmo sendo professora formada e legitimada pelos quatro anos e meio em que estive em uma sala de aula buscando a bagagem necessária para tal função, nunca tomei para mim a identidade social que o indivíduo professor assume: profissional desvalorizado que, se alocado em uma escola particular, é visto como “empregado” de seus alunos e não como agente facilitador do ensino-aprendizagem e, se alocado em uma escola pública, vê-se sufocado em salas com mais de quarenta alunos, onde o espaço físico precário limita o espaço de troca e vivência dos conhecimentos que realmente valem à pena.

Na minha experiência de estágio na escola pública, encontrei uma realidade mais “fácil” que a de muitos colegas, pois estava sobre a organização de um Colégio Militar no qual a hierarquia filtra as dificuldades, mas não as extingue. Alunos são alunos em qualquer contexto e as reclamações e insatisfações dos professores podem ser vistas e ouvidas em qualquer ambiente escolar.

Atualmente, sou instrutora do Curso de Formação em Segurança Pública que a Guarda Civil Municipal de Ilhéus-BA recebe, via convênio do município com o Ministério da Justiça e o Instituto de Promoção de Segurança Pública Municipal – PROSEM. Estamos na segunda fase do curso, que subdividiu a GCM em duas turmas de quarenta alunos por fase. Considerando a quantidade de habitantes de Ilhéus e o contingente de 217 guardas que compõem essa instituição, que faz parte do setor da segurança pública percebemos em sala de aula que é possível pensar em ações efetivas que coloquem o material humano da guarda à disposição da comunidade de maneira mais efetiva.

A matéria que desenvolvo no curso aborda justamente a questão da ação da Guarda Civil Municipal – GCM no ambiente escolar e comunidade do entorno, observando como atividades sócio-pedagógicas podem ser instrumentos efetivos no processo de formação de multiplicadores de segurança pública que saem de suas comunidades. Hoje, um de meus alunos usou como exemplo o caso do menino de 10 anos que atirou em sua professora e se matou fato este acontecido na escola municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano – SP. No momento em que esse exemplo foi colocado em foco eu não sabia muitos detalhes sobre a situação, mas de maneira empírica observei a necessidade da ação preventiva na área de segurança pública que, ainda hoje é colocada de lado por muitas instituições desse setor. Mas, quando li a notícia completa, percebi que esse fato falava mais alto diante da GCM de um modo geral, considerando que a arma utilizada pelo menino era do seu pai, um guarda civil municipal que até onde se sabe não tinha porte de arma.

Este não é o momento para julgarmos esse homem que antes de qualquer coisa é um pai que acaba de perder o filho mais novo, acredito que essa situação lamentável deve ser utilizada para um questionamento individual sobre nossas práticas em todos os contextos onde desenvolvemos o papel de atores sociais. Nesse como em tantos outros casos o “se” será uma constante: se esse pai não tivesse uma arma em casa, se a escola tivesse um sistema de revista das mochilas dos alunos, se a professora tivesse percebido alguma atitude suspeita; essas suposições infelizmente não poderão apagar da memória dos alunos que estavam em sala de aula, da professora que mesmo ferida não corre risco de morte e principalmente desses pais que não terão mais seu filho, as lembranças de uma tarde no dia 22 de setembro de 2011 que por motivos ainda obscuros, não foi como todas as outras.

No meio de tudo isso, de tantos casos de violência em contextos múltiplos a população questiona: onde está a segurança pública? Eu, humildemente acredito que a segurança esta onde o todo busca e mantêm; não cabe mais afirmar que segurança é responsabilidade isolada das instituições responsáveis por ela, como não cabe também dizer que educação é uma responsabilidade única da escola. Estamos enquanto comunidade, dividindo as funções e nos isentando da responsabilidade que também é do todo.

A segurança é plantada quando estamos andando e vemos uma blitz e não fugimos dela, pois sabemos de sua importância; está na educação no tratar o idoso que pede informação a um GCM; está no respeitar regras básicas de trânsito como a faixa de pedestre; está em pedir desculpa quando estamos errados e lutar por nossos direitos de maneira legal quando estamos certos e está principalmente em todas as ações isoladas e/ou conjuntas de respeito e legitimação do direito do próximo, considerando que parte considerável dos crimes acontece por desentendimentos pessoais.

Todos os setores são responsáveis diretos pela sensação concreta de insegurança pública, pois por mais utópico que seja a segurança esta intimamente relacionada com a educação e os valores éticos e sociais básicos que ela deve fomentar. A responsabilidade, bem como o dever e o direito nessa questão é de todos nós.

* Blog do GCM NASCIMENTO

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