Para Rosane Bertoti, a utilização da internet e das novas mídias são instrumento estratégico de comunicação com a classe trabalhadora Escrito por: Maria Mello, Sinpaf
“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”. A frase do pensador grego Arquimedes construída na Antiguidade Clássica poderia sintetizar o caminho apontado pelos debates promovidos no 1º Encontro Mundial de Blogueiros, que aconteceu em Foz do Iguaçu (PR) entre os dias 27 e 29 de
outubro. Ao longo dos dois dias de evento, os cerca de 500 participantes de 23 países e de 17 estados brasileiros reforçaram a importância da utilização das novas mídias, como os blogs e as redes sociais, no sentido de incluir novos atores políticos no processo de ampliação da democracia.
Para trocar experiências e discutir a utilização dessas ferramentas e da atuação da chamada “blogosfera” no âmbito da luta sindical, diversas entidades cutistas participaram do encontro.
Leia abaixo entrevista com a secretária nacional de comunicação da CUT, Rosane Bertoti.
Por que é importante que o movimento sindical participe de um espaço como esse?
O movimento sindical tem de estar integrado a toda ação política de seu país, porque o que tem a ver com o mundo do trabalho e dos trabalhadores. E esse tema das novas mídias, dos blogs, é questão estratégica. Para a CUT, a comunicação em si é uma questão estratégica, no viés da democratização da comunicação e no viés da própria estrutura interna, de dialogar com sua base.
Estamos aqui aprendendo com experiências de outros países e afinando relação com o mundo dos blogs, afirmando nossa posição em relação à luta pela democratização da comunicação. Por isso o movimento sindical tem de estar articulado com o mundo dos blogueiros e das novas mídias.
Na realidade brasileira, para uma série de segmentos, parece que esse ainda é um debate inacessível, a grande mídia ainda está pautando os temas, a visão de mundo para uma grande parte da classe trabalhadora no Brasil. Como você vê isso?
Hoje o papel das novas mídias consegue fazer contraposição à velha mídia, mas ainda está muito aquém daquilo que o Brasil e os trabalhadores precisam.
Há uma grande parte dos trabalhadores que conseguiu perceber as novas tecnologias, se articular nas redes sociais, buscar essa informação. Mas ainda há uma grande massa, que é maior do que a primeira, que ainda está pautada pela imprensa tradicional. Temos de continuar fazendo investimentos nas novas mídias e redes, mas não podemos abandonar bandeiras históricas de democratização da comunicação. A luta seria outra se, por exemplo, o Movimento Sem Terra tivesse um canal de televisão. A luta da CUT seria outra se tivesse um canal. Precisamos continuar investindo nas redes porque é um mecanismo que nos facilita e que está mais ao nosso alcance, mas precisamos através disso mobilizar a luta. O marco regulatório, mudanças nas concessões, mudança no financiamento público nas estatais, o Plano Nacional de Banda Larga, tudo isso tem de estar na nossa pauta porque elas se articulam entre si.
Como você vê o risco de que as novas mídias sejam vistas como fins em si mesmas, em vez de instrumentos de ação?
Não sou das pessoas que acham que pela internet se resolve tudo. Sem acesso a internet, não tem como articular, buscar informação. A partir da internet você ramifica sua ação, mas ação é com o povo na rua. Internet é um instrumento para chamar, mas a mobilização se faz com o calor do povo, com ginga, com raça, é dessa forma que vamos articular a luta. Vamos fazer dessa ferramenta um instrumento, porque a luta não vai se dar só nas redes sociais.
Fonte: CUT
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