O Besteirol da mídia eletrônica e a juventude
Assistimos, perplexos e impotentes, neste início de século, a um festival revelador da maior degenerescência humana já vista nos últimos tempos e que sinaliza categoricamente para os valores que imperam nesse momento histórico conturbado e de transição. Nossos empresários da poderosa mídia eletrônica, ávidos por aumentar seus incalculáveis lucros, já lançaram “Casa dos Artistas”, “A Fazenda” e “Big Brother”, inclusive, sem a mínima originalidade ou criatividade, copiando programas veiculados em outros países, desprovidos de qualquer preocupação em delimitar os controles éticos ou morais de seus conteúdos.
Trata-se, na verdade, da reunião de um punhado de ilustres desconhecidos ávidos também por fama e dinheiro fácil mesclados com "artistas”, certamente excluídos da linhagem respeitável de “estrelas”, alguns, semi-analfabetos ou alfabetizados à brasileira (falam e escrevem, mas não conseguem pronunciar três palavras sem arranhar o vernáculo ou falar “gíria” e palavrão) além de jovens modelos a exibir seus dotes físicos, todos trancafiados numa casa com câmeras por todos os lados a mostrar-lhes sua privacidade, num desfile imoral de palavrões, gestos obscenos, atos libidinosos explícitos ou implícitos, frivolidades na problematização de casos banais, principalmente no Programa “A Fazenda” objetivando a emersão da mesquinhez ou pequenez humana, numa seqüência de cenas dantescas que incita a concupiscência e o instinto animal do ser humano na sua versão mais primitiva. Tudo isso vale por dinheiro! Dinheiro auferido por empresários dos programas com o aumento das audiências e também dos participantes, os quais nesse mundo selvagem vão também em busca do vil metal, seja a que preço for, mesmo que sejam obrigados a se aproximar dos limites que separam o “homem sapiens” do animal irracional.
O ponto nevrálgico desse festival de frivolidades nos assusta na medida que reconhecemos a vulnerabilidade do recesso de nossos lares, ante o poder atraente e extraordinariamente sugestionável da televisão perante a mente pura de nossas crianças e da personalidade ainda em formação de nossos filhos adolescentes.
A música de péssima qualidade, sem melodia ou sem enredo algum - ou com enredo imoral e bestial- dos aventureiros musicais de plantão da mesma forma que apareceu, felizmente, já desapareceu. Mas como convencer nossos jovens adolescentes que devem ter uma orientação religiosa e estudar para ter uma formação acadêmica, se um dançarino de pagode ou uma dançarina de axé ou mesmo uma feiticeira erótica que não esfregaram o “bumbum” numa cadeira de Faculdade aparentemente são bem mais sucedidos nessa sociedade consumista e eletrônica, apenas por exibir o seu “bumbum e suas genitálias” em revistas masculinas, do que um professor, médico, Juiz de Direito, Promotor, Advogado, engenheiro, jornalista ou outra carreira acadêmica?
Como se pode ensinar o vernáculo, a chamada língua culta e incentivar a formação cultural do jovem, se ao ligar a televisão as nossas apresentadoras, cujos maiores “méritos” consistiram em desnudar seus corpos ou engravidar-se de artistas famosos, passam para nossos filhos o besteirol, com desfiles de banalidades e gírias, que nada, absolutamente, acrescentam à promoção do ser humano? Como convencer nossos filhos que o melhor é ouvir a música inteligente de Chico Buarque, ou mesmo o samba brasileiro de Martinho da Vila, a música poética de Caetano Veloso ou romântica de Peninha, ou mesmo a poesia de Drumond ou um bom livro, empregando seu ócio em algo que atenda aos interesses superiores da leveza do ser, do que assistir “ A Fazenda” ou Big Brother? Como convencer nossos jovens que é melhor ser professor universitário de uma Universidade Pública do que um big brother, apesar de saber que em toda à sua vida docente, o professor nunca obterá o reconhecimento material que o ilustre desconhecido teve em pouco mais de dois meses de besteirol puro?
Alguns dirão que isso tudo “faz parte” e que pode servir de material para uma pesquisa científica ou coisa que o valha, mas isso não nos convence pela sua própria inutilidade, bem como pelo potencial prejuízo já produzido na mente de nossos jovens de hoje. Como se vê, esse é o grande desafio de pais de crianças e adolescente ante o poder infernal da mídia que invade nossos lares e arrastam nossos jovens para o caminho da pequenez humana.
Urge, pois, que, sem falso moralismo, possamos reagir e transformar nossos lares de “hotéis” e “restaurantes” de hoje, onde os hóspedes (filhos) comem, dormem e assistem televisão, em templos sagrados, onde possamos conjugar os verbos “amar” e “recomeçar”, e sejamos capazes de transmitir-lhes valores que promovam a dignidade do ser humano, despertando-lhes o sentimento de solidariedade, amor fraterno, senso de justiça, caridade, altruísmo, honestidade, respeito ao próximo, orientação moral e espiritual, eticidade, lançando a semente para que esses valores sejam internalizados em nossa juventude (tão maltratada). Esse papel pertence aos pais, os quais não devem pecar por omissão!
Devemos conversar com nossos filhos e convencê-los a trocarem a televisão pela leitura de um bom livro ou mesmo uma boa conversa com amigos, levá-lo a um teatro quando puder (ou quando o Estado neoliberal permitir), mostrar-lhes que embora a prosperidade seja (e deve ser) o anseio de todos, a escravização das riquezas materiais é prejudicial e não eleva o ser humano, muitas vezes é temporária, mesmo porque quando desencarnarmos não levaremos nada de material desta vida. Na verdade, a vida é simples e, como os pássaros ou os lírios dos campos, não precisamos de toda essa parafernália ou ornamentos artificiais para sermos felizes. È curial que convençamos nossos filhos que estudar é preciso e que ingressar numa universidade é uma das alternativas de libertação do homem, principalmente da camada inferior, dessa sociedade injusta e tão desigual.
É preciso que convençamos nossos filhos que nas horas de folgas, empregue o ócio em algo que verdadeiramente os promova, através da prática do esporte sadio, da leitura de um bom livro, da apreciação da boa música ou de uma peça de teatro, de uma boa conversa ou na prática de algum ato de caridade desinteressado que não apenas nos enriqueça culturalmente ou nos realize pessoalmente, mas acima de tudo, contribua para o nosso aprimoramento moral e espiritual. Enfim, independente da crença de cada um, é necessário que digamos aos nossos filhos, que DEUS é a luz, o caminho e a verdade, e que lembremos que o que nos torna à sua imagem e semelhança, diferenciando-nos, conseqüentemente, de outros animais irracionais, é a inteligência emocional do verdadeiro amor ao próximo voltado para a realização plena da justiça humana. Somente assim, acredito, poderemos sonhar com um amanhã promissor.
* Marcos Bandeira, juiz da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Itabuna.
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